domingo, 25 de abril de 2010
O (muito provável) triste fim de Lost
Olá queridos leitores.
Primeiro, peço desculpas pela falta de atualizações da minha parte, estou estudando muito pra concursos e quase não sobra tempo pra nada.
Também peço desculpas adiantadas ao Zé por essa postagem pois falarei um pouco mal sobre a série preferida dele (e que também já foi a minha).
Em tempo, hoje li uma reportagem na Folha Online, que consiste em uma crítica escrita pelo roteirista do seriado brasileiro 9MM -que nunca assisti, porém, gostei da exposição de idéias dele-, a qual transcrevo a seguir:
""Lost" é uma das melhores e uma das piores séries que já acompanhei.
Ao final da terceira temporada, quando Jack revela a fragilidade que havia por trás do salvador, à espera de um acidente que desse sentido a sua vida, concluí que estava diante de uma experiência audiovisual marcante.
"Lost" para mim, nessa época, estava no nível de Shakespeare.
OK, o entusiasmo me levou ao exagero. Mas, de qualquer forma, aquela ilha habitada por seres cindidos, ambivalentes, capazes de navegar da glória à miséria em um episódio, foi um mergulho trágico que poucas vezes o audiovisual conseguiu alcançar.
Eram tempos em que, quando um episódio acabava, era impossível não emendar no outro. E assim lá se iam as madrugadas. E os dias.
"Lost" inovou também no formato e na construção de um universo transmidiático. Foi a série que mais bem trabalhou com a convergência de mídias. Os mistérios da série compõem um jogo de adivinhação que é mais bem desvendado quando você acessa outras mídias, lê revistas, se inteira do universo como um todo. Até intervenções físicas foram usadas, como quando os produtores da série fizeram uma intervenção teatral numa feira de história em quadrinhos.
Isso tudo deu a "Lost" o status de realidade. Há quem ainda pense que atuar em várias plataformas é apenas uma questão de "modelo de negócios". Ou seja, é bom para vender subprodutos.
É evidente que isso é importante, mas é muito mais do que isso. Atuar de forma transmidiática (seja em cinema, seja em televisão) é hoje uma necessidade dramática. É a presença da série em várias mídias que dá ao público a "impressão de realidade".
É claro que o público sabe que aquilo é uma ficção. É evidente. Mas o público gosta de "brincar de realidade". "Lost" trabalhou com o princípio da "teoria da conspiração" e criou para o público um jogo de adivinhação que só para ser desvendado exigia participação em várias mídias.
É a melhor interatividade que a televisão pode despertar no público. Não é a interatividade óbvia de mudar o final. É a interatividade de achar pistas e desvendar segredos através de pesquisas de fãs. Foi assim que "Lost" conquistou uma legião de fiéis seguidores.
Mas, a partir da terceira temporada, assistir a "Lost" se tornou um tormento. Os fãs, já "viciados", se tornaram reféns. Um olho acompanha as desventuras de personagens e mais personagens que não param de entrar na série, o outro acompanha o relógio para ver se falta muito para terminar o capítulo.
"Lost" foi do Céu ao Inferno. O motivo principal, a meu ver, é que a série tentou estabelecer um pacto capcioso com o espectador. A partir de determinado ponto, o fã chegou à conclusão de que na ilha vale tudo. As regras do universo foram para o chapéu e perdemos a "impressão de realidade". Um vê mortos, outro conversa com eles, há viagens aleatórias no tempo, os que não eram parentes passaram a ser, o passado foi reescrito, cada personagem tem duas versões de si (Locke chegou a ter três).
Como os habitantes originais da ilha não foram suficientes para dar continuidade à paranoia dos ganchos impactantes, em cada capítulo entra mais gente. Há os Outros, os outros dos Outros, o avião que chega, o navio que chega, o submarino que sai, mortes e ressurreições. O clima de mistério se dissolveu e tudo virou uma comédia farsesca. O mais perdido na ilha de "Lost" é o espectador.
Uma questão dramática funciona quando uma pergunta é colocada e gera ansiedade no público, que mais tarde é compensado e logo ganha novas questões dramáticas. "Lost" passa pela angústia sem a satisfação. Chega um ponto em que é impossível perceber as respostas porque já nem lembramos das perguntas.
Não sei como vai terminar, mas intuo que qualquer final será menor do que a expectativa. Os roteiristas criaram uma armadilha para si mesmos. No ponto em que estou (atenção, *spoiler*! Quem não quiser saber, pare por aqui) soa como uma releitura de Jó, com um pacto entre Deus e o Diabo para decidir quem são os escolhidos. Os candidatos são os que estavam na primeira temporada; Deus e o Diabo surgiram recentemente. O que nos leva a concluir que os personagens eram marionetes de forças que nem existiam. E o espectador era marionete dos criadores.
Imagino um final em que todos os personagens dão de cara com a grande demiurga, que atende pelo nome místico de Janete Clair e, com ar de decepção, decide que a melhor saída é explodir a ilha e começar tudo de novo.
Acredito que quem não viu "Lost" deixou de viver uma experiência marcante. E justamente por isso é triste ver um objeto de admiração terminar seus dias em um estado de decrepitude tão acentuado."
NEWTON CANNITO é autor da "A Televisão na Era Digital" e um dos criadores da série "9MM: São Paulo"
Acho perfeito o que ele expôs.
Até a terceira temporada, eu assistia à série com gosto. Era uma loucura ficar esperando dias e dias por novos episódios.
Lembro que depois de assistir "The Man Behind The Curtain" e "Flashes Before Your Eyes" eu pensei: "Estou diante da coisa mais brilhante que a televisão já criou".
Minha loucura foi tanta que, depois de uma entrevista dos roteiristas falando que muito da série foi tirada do livro "A Dança Da Morte" do Stephen King, me vi obrigado a comprá-lo e constatei que, assim como a série, ele é bom só até a metade (talvez essa seja a cópia).
Porém, a partir do péssimo finale da terceira temporada, as coisas começaram a ruir, e como o Newton coloca no texto, hoje, pelo menos eu, sou um mero refém da série. Assisto sempre no dia em que sai o release, porém sem aquela vontade louca de saber o que vai acontecer, e muitas vezes não vendo a hora de o episódio terminar para fazer coisas mais importantes.
Infelizmente, só continuo acompanhando Lost por saudosismo, pois, quando paro pra pensar nas alegrias e momentos "mind fuck" que ela me proporcionou, eu me animo pra continuar. Se eu fosse um espectador que começou a dar umas olhadas a partir da 4ª temporada, estaria longe da série há muito tempo. Só verei esses episódios restantes pra "ver no que vai dar".
Enfim, é isso, tem muitos filmes que estou louco pra comentar aqui, mas a falta de tempo não deixa. Mas já adianto que estou louco pelo Festival de Cannes desse ano, só de saber que teremos Godard, Manoel de Oliveira, Nikita Mikhalkov, Iñarritu, Lodge Kerrigan, Cristi Puiu e 2 brasileiros nas mostras paralelas, já me deixa bem animado.
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Finalmente uma explicação para o que eu penso sobre Lost!! E mais... acho que o final vai ser uma grande decepção "com espaço para debates", como já adiantaram os produtores. Acho que eles se perderam quando decidiram substituir as quatro temporadas iniciais por seis. Ali foi o ponto que marcou a passagem da série brilhante para uma coisa cada vez mais sem pé nem cabeça!! Adorei o post!!
ResponderExcluirPois é Dani, a parte "Espaço pra debates" é o que mais me entristece.
ResponderExcluirMesmo porque, o que parece é que eles vão deixar de responder vários mistérios de propósito só pra continuarem vendendo o produto com HQ, filmes, copos do McDonald's e etc.
Isso é verdade, as melhores temporadas são a 1 ea 2 e tambem o capitulo que desmonte preve a moste de charlie " sinto muito brother eu tentei mais vc sempre morre no final, o destino sempre da um geito, o final é muito simples e a maioria das coisas não são explicadas, acho que pra uma serie como lost o final foi fraco.
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